20 outubro 2011

Moisés 2.0

Atualmente estou lendo um livro que muito me tem feito pensar e gostaria de compartilhar partes do capítulo 9, sobre Os Dois Ministérios de Jesus.

Nunca antes havia pensado que o Novo Testamento teve início com a morte de Jesus e não com o seu nascimento! Ao abrirmos a Bíblia no primeiro capítulo de Mateus, vemos, na página anterior, em grandes letras: "O Novo Testamento" e por isso achamos que seu início é com o nascimento de Jesus.

O menino Jesus, na mangedoura em Belém, nasceu debaixo da lei. Todos ao seu redor estavam também debaixo da lei: “... Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.” (Gal.4:4-5)

Isso quer dizer que, durante a maior parte dos evangelhos a Nova Aliança ainda não havia sido implementada. O grande divisor é a cruz, pois a morte de Jesus, não o seu nascimento, é o que deu início à era do Novo Testamento.

Isso é muito importante para compreendermos a Bíblia, especialmente os ensinamentos de Jesus. Pode-se dizer que ele se concentrou em dois ministérios:

-  O segundo se referia a profecia sobre um novo caminho, livre de regras, regulamentos e religião. Ele falava de um sistema baseado na graça, onde poderíamos chamar Deus de “Papai” (Abba), que incluía conceitos como luz, amor e vida nova. Isto é o que geralmente nos vem à mente quando pensamos nos ensinamentos de Jesus.
- Mas o primeiro foco, igualmente importante, era fazer com que todos ao seu redor compreendessem o verdadeiro sentido ou “espírito” da lei. Vejamos alguns trechos de um sermão “de matar” (Mateus 5:21-48) que Jesus proferiu diante de ouvintes boquiabertos:

Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo. (Mat. 5:21,22)

Ouvistes o que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela. (Mat. 5:27-28)

Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-0 de ti; pois te convém que se pereça um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno. (Mat.5:29)

E se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros e não vá todo o teu corpo para o inferno. (Mat.5:30)

Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, .... (Mat.5:43-45)

Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste. (Mat.5:48)

Moisés 2.0
Os ouvintes de Jesus estavam acostumados ao “Não matarás” e seguros de poderem guardar o mandamento, mas “nem mesmo ficar com raiva de alguém” era algo novo que acabavam de ouvir. Da mesma forma, conheciam o “Não adulterarás” e talvez conseguissem não adulterar, mas “nem mesmo olhar para uma mulher com má intenção”? Como é que poderiam controlar um impulso desse numa fração de segundos?

Aí, Jesus “solta a bomba”: lhes diz para arrancar os olhos, cortar as mãos e serem perfeitos como Deus. É interessante notarmos que Jesus faz referência a Moisés várias vezes e depois sobe o padrão. Ele faz com que seja impossível para qualquer pessoa se adequar. E outra coisa: as consequências pela desobediência aos seus ensinamentos seriam julgamento e ser lançado no inferno.

Alguns explicam Mateus 5 como uma passagem sobre crescimento espiritual, aplicada aos cristãos. O autor do livro questiona esse ponto de vista e, baseado nas consequências mencionadas por Jesus, diz que o que está em questão aqui é nosso destino final: se nos tornaremos “filhos de nosso Pai celeste” ou se seremos “lançados no inferno”. Este seria o contexto e estas são as palavras de Jesus.

A única razão de sobrevivermos esse sermão “de matar” sem levar em conta a grande divisão da cruz é que a maioria de nós não leva os ensinamentos de Jesus tão a sério. Pensando que “ele não quiz realmente dizer aquilo” nós nos contentamos com uma versão mais “light”. Dessa forma, Jesus não é mais uma pedra de tropeço, mas apenas uma pequena lombada na estrada rumo ao nosso destino do “auto-aperfeiçoamento”.

Mas agora que vimos a linha divisória da cruz, não precisamos “diluir” seus duros ensinamentos, mas colocá-los em contexto. Se pudermos voltar e ler os 4 evangelhos, veremos os dois ministérios de Jesus: o segundo ministério trazendo a nova aliança, mas também o primeiro condenando o orgulhoso com o espírito verdadeiro e inatingível da lei. Esse primeiro ministério não mostra um Jesus amistoso e bom vizinho. Mostra o Senhor com uma espada. Ele repetidamente faz referência à lei de Moisés e depois, sobe o padrão.

Introduzindo Moisés 2.0
Qual seria sua motivação para esses ensinamentos impossíveis? Ele amplificou a lei para mostrar que ela não poderia ser obedecida de forma alguma. Ele disse a alguns para cortar membros do corpo. Disse a outros para vender tudo que possuíam. E ainda os chamou de “víboras”.
Qual foi o resultado? O homem rico foi embora triste. Os fariseus foram embora com raiva. Missão cumprida.

Vancouver 2010
Os padrões olímpicos são altos. Em 2010 os jogos olímpidos foram realizados em Vancouver. Naquela época as condições para esquiar eram tais que, na descida da montanha, os competidores atingiam velocidades excedentes a 145Km por hora durante os treinos. A velocidade normal nesse nível de competição é geralmente ali pelos 135 Km por hora. Então, o comitê olímpico decidiu começar a competição em local mais baixo na montanha, para evitar que os esquiadores atingissem velocidades incontroláveis.

Em Mateus 5, Jesus convida os ouvintes para um tipo de olimpíada espiritual. Ao contrário do comitê olímpico de Vancouver, Jesus toma a linha de partida e a coloca em um lugar mais alto na montanha. Dessa forma, todos os esquiadores acham impossível fazer o trajeto. Ninguém jamais conseguiria chegar lá embaixo e muito menos ganhar uma medalha.

Então, para surpresa geral, Jesus sobe ao topo, esquia perfeitamente montanha abaixo, ganha a medalha de ouro, bate o recorde olímpico, e nos dá a medalha. Depois ele grita para todos: “Atenção! Fiquem longe daquela montanha! Toda tentativa de esquiar nela certamente resultará em morte.”

A montanha não vai desaparecer até que os céus e a terra desapareçam com ela (Mat. 5:18). E nós devemos respeitar a montanha (Rom. 7:12). Devemos observar o seu topo com admiração. Porém, não é da nossa conta tentar sobreviver descendo suas encostas traiçoeiras:

... porque estas mulheres são duas alianças: uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; ... Mas a Jerusalém lá de cima é livre, a qual é nossa mãe; ... (Gal. 4:24,26)

(“God Without Religion – Can it Really Be This Simple?” by Andrew Farley)